quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Texto: Um produto histórico-social

O processo ensino/aprendizagem da leitura do texto na perspectiva da intertextualidade pode promover a interação com vários gêneros textuais, além de desenvolver a capacidade de identificar o intertexto, mostrando para o aluno que a importância do conhecimento de mundo interfere no nível de compreensão do texto como observaremos a seguir na letra da música do cantor Petrúcio Amorim “Deus do Barro”.
“Quando Deus fez o homem
sua semelhança
Foi amassando o barro
com a mão
Deu um sopro de vida
e esperança
Espalhou pelo mundo a criação”

É visivelmente notável uma alusão nesses versos ao livro da Bíblia: Gêneses (2,7) – “Então formou o Senhor Deus o homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego da vida e o homem passou a ser alma vivente”.

Como sabemos, o texto não se restringe apenas a linguagem escrita, podemos usar outros tipos de textos com o mesmo tipo de mensagem, fortalecendo a comunicação no entrelaçamento de leituras em diferentes textos. Usando a obra de Michelangelo ”A Criação do Homem”, afresco pintado na Capela Cistina do Vaticano notamos nitidamente uma referência ao livro Gêneses.


Como vimos anteriormente na letra da música, as palavras criam imagens, enquanto que no quadro as imagens criam palavras. Podemos observar durante a leitura da pintura o dedo de Adão tocando no dedo de Deus, passando a idéia de energia, vida, transmissão de amor, paz, força e coragem aos mortais e (nesse toque observamos uma simbologia) na vida real tudo isso nos é passado quando recorremos a Deus. É notado também em segundo plano as imagens de anjos que acompanham Deus em sua tarefa, não podendo deixar de observar a figura de Adão, representada com traços fortes e bem definidos.

O texto com a temática religiosa apresenta características renascentistas, como a beleza e a harmonia na manifestação artística.

Deus criou o homem e com seu imenso amor deu-lhe o poder de criação e a arte de criar deve estar ligada a arte de amar como podemos ver nos versos abaixo:

“Pra fazer com amor é preciso fé
Da mistura da lama saber tirar
A imagem de toda Maria e todo Zé
Tudo aquilo que a terra pudesse dar”

A letra da música “Deus do Barro” nos passa várias informações como verificaremos nos próximos versos, uma referência ao Mestre Vitalino que foi iniciada anteriormente:

“O boneco Mestre Vitalino
É grandeza por ter simplicidade
Com o barro ele fez o seu destino
Pelo barro ganhou eternidade”

Nós somos a soma de todas as leituras feitas no nosso dia-a-dia, leitura de situações, leitura de mundo que vai nos dar suporte para um melhor entendimento na leitura de um texto. Mestre Vitalino usou essa leitura de mundo na sua arte. Ele imprimia no barro a sua vivência, tornando-se um artesão mundialmente conhecido por retratar com a sua arte a cultura e o folclore do povo nordestino, como diz o verso a seguir:

“Amassa com a mão amassa
Um boneco uma banda de pife
Um dentista, um cavalo, um boi de carro
Amassa com a mão amassa
Se Deus é um Vitalino, Vitalino é um Deus de barro.”

A arte de Mestre Vitalino até hoje é recriada através dos seus seguidores. Nascido na zona rural de Caruaru, já adulto mudou-se para o Alto do Moura, local mais próximo do centro de Caruaru, conhecida como a capital do forró e que foi colocada no mapa mundial por ter obras de Vitalino expostas no Museu do Louvre em Paris. Sua arte transformou Caruaru no maior centro de arte figurativa das Américas – título concedido pela Unesco.

A arte pode identificar a geografia física e humana de um povo. O trabalho com a música “Deus do Barro” rendeu pesquisas sobre Luiz Gonzaga e Vitalino, dois divisores de água, na arte expressiva da identidade nordestina.

Tanto a arte de Vitalino quanto a de Luiz Gonzaga representam muito bem seu povo, seus hábitos, suas lutas, tristezas e injustiças sociais. Porém mostram a alegria, a fé e a força de um povo sensível e batalhador que nunca se deixa abater.

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